Ana
Gusson é uma jovem diretora de arte, mas já requisitada no mercado. Sua
participação em Kassandra foi emendada antes e depois com variados projetos,
incluindo o curta A Princesa e a Ervilha, realizado como parte do seu trabalho
de conclusão em design pela ESPM Porto Alegre.
Li o roteiro e adorei, isso por si só me deu muita vontade de fazer um bom trabalho, estar em uma equipe repleta de profissionais competentes e mais experientes do que eu só me motivou a buscar um nível ainda mais alto. Além disso, as experiências anteriores dos outros membros da equipe me ajudaram e me ensinaram muito. Só tenho a agradecer por estar em meio à profissionais incríveis que me inspiraram e me apoiaram muito.
Qual o
aspecto mais interessante que você vê em Kassandra? Especialmente na questão do
conceito visual do filme?
Ana: Me admira a capacidade da
história de transitar entre o sombrio e o delicado e inocente, de forma
natural. Da mesma forma, o conceito visual do filme, centralizado no
preto-e-branco, faz o mesmo movimento. Foi muito interessante trabalhar em
torno dessa perspectiva. Um mesmo cenário/objeto, mostrado duas vezes, muda sua
personalidade sem ter passado por uma transformação. Para que isso desse certo,
direção, fotografia, arte, atuação, tudo teve que ser muito bem trabalhado e
sintonizado.
Além
disso, quando li no roteiro os objetos da história, sempre precisos, fizeram
com que eu me apaixonasse pelo projeto. A história toda se conecta através
deles, tanto na questão narrativa quanto na visual. Achei fascinante.
Qual era
o maior desafio para a arte em Kassandra? Era o fato do filme ser em
preto-e-branco?
Ana: Sim, o fator preto-e-branco
foi um desafio e tanto. Geralmente, um dos maiores esforços da arte é a busca
pela paleta de cores certa para cada filme, cada cena, cada sentimento. No caso
de Kassandra, as cores
deixaram de ser uma preocupação maior, para dar lugar às texturas e aos
contrastes.
Trabalhar com preto e branco pode parecer muito fácil, quando na verdade é
bastante complexo. Nem sempre as cores, quando transpassadas para os tons de
cinza, reagem da forma como esperamos. O vermelho foi o nosso maior desafio,
pois ao invés de se tornar um tom escuro e denso, virou um pobre e pálido cinza.
Ainda
assim, acho que o maior desafio da arte de verdade foi tentar criar um conceito
visual que refletisse a delicadeza e a fragilidade da personagem, sem negar o
seu lado obscuro. O
preto-e-branco foram extremamente cruciais pra construir essa imagem, mas
tivemos de ter muita cautela pra não exagerar nos cenários ou peso visual dos
objetos, de forma que eles não quebrassem a delicadeza e cair só no sombrio.
Fale um
pouco sobre a locação do filme: onde era, como foi trabalhar lá, as facilidades
e dificuldades a respeito dela.
Ana: Trabalhar em locação não é
fácil, todo o cuidado é pouco. Ainda mais tendo cenas com sangue, brigas e
mortes (pode falar?) em meio a móveis e objetos emprestados (delicados,
valiosos, frágeis, e a lista segue longe), cujos donos estão confiando no
profissionalismo da equipe. Alguma coisa sempre acontece pra perturbar a paz.
Se não é o sangue falso melequento escorrendo no sofá, é um tropeço no pé da
mesa com tampo de vidro. Repito: todo cuidado é pouco! Haja produção de set pra
segurar as pontas.
A nossa
locação era ótima. Além de muito adequada às necessidades e ao conceito do filme,
o espaço era amplo e muito do que havia no local foi utilizado na arte. Poucas
foram as preocupações com relação à adaptação do apartamento. As dores de
cabeça se concentraram mais no compromisso de manter o lugar em ordem da forma
como nos foi emprestado.
Você
estava recém-terminando sua graduação em design e assumiu a direção de arte de
Kassandra. Como é ter essa responsabilidade assim, no início da carreira, junto
com uma equipe que tem profissionais que estão há mais tempo no mercado?
Ana: Já havia trabalhado com o
diretor Ulisses Costa e a equipe antes, mas em uma produção bem menor. A
proposta de Kassandra era completamente diferente e bem mais
desafiadora. Quando recebi o convite para participar da equipe de Kassandra como diretora de arte, confesso que
duvidei no início, achei que fosse brincadeira (risos). Até achei que o Ulisses
tinha se confundido e que eu ia ser assistente de arte. Isso sim parecia mais
plausível. Mas quando percebi que a confusão era só da minha parte mesmo, não
deu pra deixar de me sentir muito feliz, sinal de que gostaram do meu trabalho,
né?
Li o roteiro e adorei, isso por si só me deu muita vontade de fazer um bom trabalho, estar em uma equipe repleta de profissionais competentes e mais experientes do que eu só me motivou a buscar um nível ainda mais alto. Além disso, as experiências anteriores dos outros membros da equipe me ajudaram e me ensinaram muito. Só tenho a agradecer por estar em meio à profissionais incríveis que me inspiraram e me apoiaram muito.
Você fez
um curta-metragem para o seu trabalho de conclusão, A Princesa e a Ervilha, que
também tem elementos de fantasia. O que você pôde aproveitar daquele projeto em
Kassandra?
Ana: A Princesa e a Ervilha foi uma experiência e
tanto, me ensinou muito sobre direção de arte e a realização audiovisual como
um todo. Mas a atenção aos detalhes foi o que mais me marcou e que em seguida
aproveitei em Kassandra. Ambas são histórias de
suspense e suas narrativas são pontuadas por pequenos elementos determinantes
ao destino dos personagens. Identificar e destacar esses elementos é o ponto de
partida para a construção do visual do filme, esse “método”, digamos assim, me
ajudou muito em Kassandra.
Durante
o processo de crowdfunding, você foi uma das pessoas da equipe que mais
divulgou e mobilizou pessoas para que a meta de arrecadação fosse atingida.
Como foi a emoção deste processo e qual é a importância do financiamento
coletivo para o projeto de Kassandra?
Ana: Foi
muito emocionante ver meus familiares e amigos ajudando o projeto. Todos
gostaram muito da proposta do filme e quiseram colaborar. E por mais contente
que eu ficasse a cada contribuição, os próprios contribuintes é que eram os
mais empolgados. Ver o envolvimento de pessoas queridas foi muito bacana, de
verdade. O processo do. financiamento coletivo sempre esteve nos planos do
curta, uma grande parte dos gastos seria coberta por ele. A maior evidência de
que o sucesso do financiamento foi muitíssimo importante é que agora o lançamento
de Kassandra já tá quase aí. ;)
Nenhum comentário:
Postar um comentário