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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Entrevista: Ana Gusson, diretora de arte

Ana Gusson é uma jovem diretora de arte, mas já requisitada no mercado. Sua participação em Kassandra foi emendada antes e depois com variados projetos, incluindo o curta A Princesa e a Ervilha, realizado como parte do seu trabalho de conclusão em design pela ESPM Porto Alegre.

Confira como foi o trabalho da arte num filme preto-e-branco, repleto de elementos:




Qual o aspecto mais interessante que você vê em Kassandra? Especialmente na questão do conceito visual do filme?

Ana: Me admira a capacidade da história de transitar entre o sombrio e o delicado e inocente, de forma natural. Da mesma forma, o conceito visual do filme, centralizado no preto-e-branco, faz o mesmo movimento. Foi muito interessante trabalhar em torno dessa perspectiva. Um mesmo cenário/objeto, mostrado duas vezes, muda sua personalidade sem ter passado por uma transformação. Para que isso desse certo, direção, fotografia, arte, atuação, tudo teve que ser muito bem trabalhado e sintonizado.

Além disso, quando li no roteiro os objetos da história, sempre precisos, fizeram com que eu me apaixonasse pelo projeto. A história toda se conecta através deles, tanto na questão narrativa quanto na visual. Achei fascinante.

Qual era o maior desafio para a arte em Kassandra? Era o fato do filme ser em preto-e-branco?

Ana: Sim, o fator preto-e-branco foi um desafio e tanto. Geralmente, um dos maiores esforços da arte é a busca pela paleta de cores certa para cada filme, cada cena, cada sentimento. No caso de Kassandra, as cores deixaram de ser uma preocupação maior, para dar lugar às texturas e aos contrastes.

Trabalhar com preto e branco pode parecer muito fácil, quando na verdade é bastante complexo. Nem sempre as cores, quando transpassadas para os tons de cinza, reagem da forma como esperamos. O vermelho foi o nosso maior desafio, pois ao invés de se tornar um tom escuro e denso, virou um pobre e pálido cinza.

Ainda assim, acho que o maior desafio da arte de verdade foi tentar criar um conceito visual que refletisse a delicadeza e a fragilidade da personagem, sem negar o seu lado obscuro. O preto-e-branco foram extremamente cruciais pra construir essa imagem, mas tivemos de ter muita cautela pra não exagerar nos cenários ou peso visual dos objetos, de forma que eles não quebrassem a delicadeza e cair só no sombrio. 

Fale um pouco sobre a locação do filme: onde era, como foi trabalhar lá, as facilidades e dificuldades a respeito dela.

Ana: Trabalhar em locação não é fácil, todo o cuidado é pouco. Ainda mais tendo cenas com sangue, brigas e mortes (pode falar?) em meio a móveis e objetos emprestados (delicados, valiosos, frágeis, e a lista segue longe), cujos donos estão confiando no profissionalismo da equipe. Alguma coisa sempre acontece pra perturbar a paz. Se não é o sangue falso melequento escorrendo no sofá, é um tropeço no pé da mesa com tampo de vidro. Repito: todo cuidado é pouco! Haja produção de set pra segurar as pontas.

A nossa locação era ótima. Além de muito adequada às necessidades e ao conceito do filme, o espaço era amplo e muito do que havia no local foi utilizado na arte. Poucas foram as preocupações com relação à adaptação do apartamento. As dores de cabeça se concentraram mais no compromisso de manter o lugar em ordem da forma como nos foi emprestado.



Ana analisando o apartamento onde Kassandra foi filmado


Você estava recém-terminando sua graduação em design e assumiu a direção de arte de Kassandra. Como é ter essa responsabilidade assim, no início da carreira, junto com uma equipe que tem profissionais que estão há mais tempo no mercado?

Ana: Já havia trabalhado com o diretor Ulisses Costa e a equipe antes, mas em uma produção bem menor. A proposta de Kassandra era completamente diferente e bem mais desafiadora. Quando recebi o convite para participar da equipe de Kassandra como diretora de arte, confesso que duvidei no início, achei que fosse brincadeira (risos). Até achei que o Ulisses tinha se confundido e que eu ia ser assistente de arte. Isso sim parecia mais plausível. Mas quando percebi que a confusão era só da minha parte mesmo, não deu pra deixar de me sentir muito feliz, sinal de que gostaram do meu trabalho, né?

Li o roteiro e adorei, isso por si só me deu muita vontade de fazer um bom trabalho, estar em uma equipe repleta de profissionais competentes e mais experientes do que eu só me motivou a buscar um nível ainda mais alto. Além disso, as experiências anteriores dos outros membros da equipe me ajudaram e me ensinaram muito. Só tenho a agradecer por estar em meio à profissionais incríveis que me inspiraram e me apoiaram muito.

Você fez um curta-metragem para o seu trabalho de conclusão, A Princesa e a Ervilha, que também tem elementos de fantasia. O que você pôde aproveitar daquele projeto em Kassandra?

Ana: A Princesa e a Ervilha foi uma experiência e tanto, me ensinou muito sobre direção de arte e a realização audiovisual como um todo. Mas a atenção aos detalhes foi o que mais me marcou e que em seguida aproveitei em Kassandra. Ambas são histórias de suspense e suas narrativas são pontuadas por pequenos elementos determinantes ao destino dos personagens. Identificar e destacar esses elementos é o ponto de partida para a construção do visual do filme, esse “método”, digamos assim, me ajudou muito em Kassandra.

Durante o processo de crowdfunding, você foi uma das pessoas da equipe que mais divulgou e mobilizou pessoas para que a meta de arrecadação fosse atingida. Como foi a emoção deste processo e qual é a importância do financiamento coletivo para o projeto de Kassandra?

Ana: Foi muito emocionante ver meus familiares e amigos ajudando o projeto. Todos gostaram muito da proposta do filme e quiseram colaborar. E por mais contente que eu ficasse a cada contribuição, os próprios contribuintes é que eram os mais empolgados. Ver o envolvimento de pessoas queridas foi muito bacana, de verdade. O processo do. financiamento coletivo sempre esteve nos planos do curta, uma grande parte dos gastos seria coberta por ele. A maior evidência de que o sucesso do financiamento foi muitíssimo importante é que agora o lançamento de Kassandra já tá quase aí. ;)

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