Paciente: Sexo feminino. Vinte anos.
Estresse pós-traumático. Alucinações visuais.
Avistamentos de um vulto, o "homem grande".
Cartas de tarô, de origem desconhecida.
Muda.
Mora só.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Entrevista: Maico Silveira, o terapeuta

Maico Silveira, em Kassandra, faz o terapeuta que visita a personagem-título. É, a bem dizer, o único personagem a falar de fato no filme.

Ator especializado nos palcos, mas com vários trabalhos em audiovisual, Maico (assim como Leandro Lefa) trabalhou com boa parte da equipe em O Gritador e também em Luz Natural, projeto de curta experimental iniciado pelo diretor Ulisses da Motta Costa enquanto Kassandra está sendo finalizado. 


Você é basicamente o único integrante do elenco a ter falas. Como é a responsabilidade de ser a voz num filme que é, a bem dizer, mudo?

Maico: A responsabilidade é grande. Se o filme foi concebido com poucas falas, postas na boca de um único personagem, significa que estas palavras são importantes e foram pensadas com exatidão para cada momento onde aparecem. Por isso conversei muito com o diretor sobre as intenções dessas falas, para encontrarmos a justa medida desse jogo de revelar/esconder que a palavra dita nos proporciona.

Como você avalia o processo de preparação do elenco antes da filmagem? Para um padrão de um curta-metragem, você acha que foi o suficiente ou não se costuma fazer isso neste tipo de trabalho?

Maico: Foi um período de preparação que, apesar de curto, foi muito esclarecedor para o processo. Eu adoro trabalhar com preparação anterior, acho que este período agiliza o momento da gravação, dando um entendimento maior ao ator, que pode trabalhar com mais clareza de intenções na hora do “ação”. Ter um tempo de preparação é ótimo, sendo um curta ou um longa-metragem, pois isso dá armas para o ator usar na hora da gravação.

Como um ator que costuma trabalhar mais no palco, o que você leva ou quer fazer de diferente quando vai para o set? O que você tentou fazer de diferente ou novo em Kassandra?

Maico: Eu tentei não fazer nada em Kassandra. Isso é uma das coisas difíceis de ser um ator habituado ao palco. Tenho tentado, no meu trabalho com o cinema, entender que não é preciso querer atuar, ou mostrar o que está por trás da atuação. O mais difícil é deixar a câmera entrar no nosso íntimo e captar o que é necessário para o personagem.

Você conhecia Leandro Lefa e Luis Franke anteriormente, e é o seu segundo trabalho com o diretor Ulisses. Já Renata Stein você conheceu durante os ensaios. Como você avalia estas parcerias antigas e contracenar com uma atriz nova no contexto do filme?

Maico: Estamos evoluindo juntos, e é muito bom quando temos a possibilidade de acompanhar o trabalho dos colegas e percebemos essa evolução, sobretudo quando somos atores com formação e história em comum nos palcos. Tanto no entendimento da atuação (no caso do Lefa ou do Luis), quanto no que diz respeito à maneira como conduzir um trabalho (no caso do Ulisses), percebe-se que muitas coisas foram entendidas e assimiladas ao longo dos últimos anos. Conhecer a Renata, por sua vez, foi um presente: ela me ensinou muito durante o processo. Ela tem uma energia espontânea e descontraída, necessárias não apenas para a Kassandra, mas para qualquer ator que queira trabalhar com cinema. Por isso vê-la trabalhando, colocando toda sua energia alegre, jovial e descontraída no trabalho, foi uma ótima maneira de refletir sobre nosso trabalho e alimentar o próprio processo.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Entrevista: Leandro Lefa, o vizinho

Leandro Lefa, antes de fazer Kassandra, já tinha uma larga experiência em TV e em cinema, tendo atuado em inúmeros curtas e também em longas -- fora, claro, no teatro. Ele já havia trabalhado com boa parte da equipe em O Gritador (2006), também dirigido por Ulisses da Motta Costa (assista aqui). 

Além de atuar, Lefa também está trabalhando no som de Kassandra, como folley artist. Confira a entrevista com o ator:

Alfredo Barros, o montador de Kassandra, considera você um dos melhores atores gaúchos para cinema. Você realmente tem este gosto especial de atuar para a câmera, mesmo que a formação de atores no Rio Grande do Sul seja orientada para o teatro?

Lefa: O Alfredo é muito lisonjeiro, mas acontece que meu trabalho depende muito do dele, assim que dividimos qualquer mérito. Sim, me relaciono muito melhor com a câmera e me identifico mais com a linguagem do cinema. Tenho muita dificuldade no teatro. E é uma coisa minha, porque de fato não tive uma formação voltada pra cinema (até porque não há, aqui). Começo a acreditar nas pessoas que dizem que eu sou do contra (risos).
Você já fez outros trabalhos de terror, como em Porto dos Mortos, e no teatro está vivendo o protagonista do Linguiceiro da Rua do Arvoredo, uma lenda urbana de Porto Alegre. Em Kassandra, seu personagem também vive num contexto sombrio. O que há nestes personagens repulsivos que te atrai a atenção?

Lefa: A bem da verdade, nesses três trabalhos fui convidado por pessoas de quem gosto. Poderiam ter me convidado pra fazer um vendedor de casquinha que eu teria topado. Mas o interesse pelos personagens vem na medida em que eles ajudam a compor a história e o universo do filme. No caso de Kassandra, por exemplo, o personagem é um tanto raso, mas é por isso que funciona dentro do filme. Ele contrasta com Kassandra, dando dimensão pro universo dela e mais complexidade à trama.
Do elementos que existem em Kassandra, qual é o que mais te chama a atenção como artista?

Lefa: Justamente, a trama e o universo dos personagens são alguns dos elementos que mais me fascinam no cinema. E em Kassandra eles estão muito presentes, pelo roteiro e pelas atuações. E isso é evidenciado pela fotografia. Enfim, é um conjunto harmônico. No teatro, um ator pode 'salvar a peça'. No cinema, ele pode se destacar. Se o filme funciona é mérito da equipe (onde se inclui o elenco), com destaque pro diretor, que faz todo mundo trabalhar no mesmo filme.
Como é refazer a parceria com a equipe com a qual você fez O Gritador? O que há de novo entre aquele trabalho e Kassandra?

Lefa: É muito bom por serem pessoas formidáveis, mas isso eu já sabia. É ótimo ver como todos cresceram. Os seis anos trouxeram experiência e agregaram outros bons profissionais. Me pergunta se eu quero fazer parte do próximo filme (risos).

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Entrevista: Luis Franke, o Homem Grande

Luis Franke ou, simplesmente, Luisão. A sua presença cênica forte e voz marcante (e seu grande talento) lhe renderam trabalhos nos palcos, nos microfones (ele locutor também), nas telas de TV, em produções publicitárias e no cinema -- está em O Tempo e o Vento, de Jayme Monjardim, que estreia em agosto de 2013. Além disso, Franke já tem dois prêmios Açorianos de Teatro em casa. Em Kassandra, ele faz a enigmática e assustadora figura chamada apenas de "Homem Grande". 

Confiram o que este homem de grande talento têm a dizer:



Luis, você é um ator que tem emendado trabalho atrás de trabalho para televisão, publicidade, teatro e cinema. Por que fazer um curta-metragem independente e como arranjar tempo para fazê-lo?

Luis: Os curtas, além da experiência, me dão muito prazer. A relação ator, diretor, assistentes, câmera, som, iluminação, cenografia é pura magia quando acontece em harmonia, e pra isso a gente sempre arruma tempo.

Você já recebeu dois prêmios Açorianos de Teatro. O próprio Ulisses lhe disse que era louco de dar a um ator premiado um papel que não tem falas. Não lhe incomoda em Kassandra você não puder usar a sua voz, que é uma das suas marcas registradas, e ter que atuar apenas com o corpo e com o rosto?

Luis: Na verdade eu é que sou grato ao Ulisses por ter me dado a oportunidade de fugir um pouco da minha “zona de conforto”. Os desafios nos fazem crescer.

O quem lhe chamou mais a atenção no projeto de Kassandra? Em suma, onde que o curta conquistou o seu interesse e despertou sua vontade de participar dele?

Luis: Desde o início das minhas tratativas com o Ulisses, me chamou a atenção a sua paixão, a sua vontade de realizar o projeto. Quando nos encontramos pessoalmente, vi isso no brilho do olho dele. Ele sabia o que queria. Talvez não soubesse ainda por onde ir, e abriu esse espaço para os atores construírem juntos este caminho, mas sabia onde queria chegar, e isso já era meio caminho andado. 

Eu já havia recebido um prêmio de atuação por outro trabalho orientado pelo Ulisses há alguns anos*, então sabia que estava em boas mãos. No elenco, o privilégio de dividir a cena com os talentosíssimos e queridos amigos Maico Silveira e Leandro Lefa, e a impactante Renata, que ainda não conhecia. E finalmente pelo roteiro instigante e misterioso, que nos conduz pelo imaginário entre a realidade e a ilusão, a sanidade e a loucura, a verdade e a mentira, a confiança e a traição...e por aí vai.

* Pelo curta De Cartas de Café, realizado em 2008 por alunos da Oficina de Cine do Colégio Sinodal de São Leopoldo. Em 2010, o filme concorreu no Festival de Vídeo Estudantil de Guaíba e levou os prêmios de 2o lugar em Curta de Ficção e de Ator Coadjuvante para Luis Franke. Esta oficina é ministrada por Ulisses desde 2006 e alguns dos membros do elenco e da equipe de Kassandra cursavam-na naquela ocasião: a atriz Suzana Witt, a assistente de direção Marina Cardozo, e as figurinistas Giulia De Cesero e Isabela Boessio -- que, por sinal, foi quem dirigiu Franke no curta.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Entrevista: Roger Monteiro, roteirista

A partir de hoje, o blog de Kassandra publica entrevistas com elenco e equipe do filme, semanalmente. Trechos destas entrevistas vão constar no material de divulgação, mas aqui elas podem ser lidas na íntegra.

O primeiro a falar é o roteirista Roger Monteiro, que trabalhou em cima do argumento de Ulisses da Motta Costa para criar o texto do curta. Foram três tratamentos do roteiro, que tinha um total de 12 páginas. 

Confira o que tem a dizer o homem das palavras num filme praticamente mudo (e leia aqui as primeiras impressões do próprio Roger sobre o projeto de Kassandra).



O que levou um designer a escrever um roteiro? Como chegaram em você?

Roger: Design, fotografia, literatura, cinema… No fim do dia são apenas ferramentas diferentes para se contar histórias. A faísca que você precisa despertar é a mesma. A conexão que você precisa estabelecer, não muda. E isso se sobrepõe à técnica. Gosto de pensar que esse projeto veio parar nas minhas mãos por uma certa curiosidade mórbida do diretor. Creio que só isso já seja um mérito dos idealizadores de Kassandra: assumir o risco. Não se destila relevância das velhas fórmulas à prova de erros.

Você comentou que recebeu o convite para adaptar o argumento com ceticismo, por achar que inicialmente a proposta da obra estava muito distante do seu universo de interesses. O que no fim das contas Kassandra tinha que a fez se aproximar deste universo?

Roger: Nunca tive qualquer interesse pelo gênero que o senso comum chama terror. Cemitérios indígenas, zumbis e rainhas do grito não fizeram parte do meu imaginário adolescente e não seria supresa se eu confundisse, na rua, Jason com Kruger. Dificilmente eu poderia me ver contribuindo para uma narrativa ambientada nesse universo. Mas aconteceu de o Ulisses da Motta Costa ser um tremendo mentiroso. Por mais que ele queira, Kassandra não trata do terror, ou do horror. A garota na camisola etérea é uma heroína romântica, na acepção mais acadêmica da palavra. Por trás do elemento fantástico não está o grito, mas a solidão. A solidão profunda de uma criança que não se apartou apenas do mundo, mas de si mesma. E com isso eu podia me conectar.

Qual era a sua maior preocupação na hora de elaborar as cenas e os diálogos? Como foi transpôr as ideias do argumento para o formato de roteiro?

Roger: Pode-se imaginar que, em uma estrutura narrativa desse tipo, a maior dificuldade seja a ausência do verbo. É claro que isso é um obstáculo a ser transposto, mas, por outro lado, acaba se tornando uma pedra fundamental para uma estética própria. O silêncio, em Kassandra, não é uma circunstância, ele é uma personagem tão importante quanto qualquer outra. Dar a ele esse caráter e transformá-lo no porta-voz da angústia que desejávamos foi o foco. Se fosse possível tornar o silêncio sufocante, a história se desenvolveria por si só; se não fosse, tudo mais fracassaria.

Você elaborou um roteiro mais literário, com um certo grau de subjetividade na escrita. Isso foi proposital para passar alguma informação mais sutil, ou é uma questão de estilo?

Roger: Uma vez que trata de escolhas, toda escrita é subjetiva, expressa um ponto de vista, uma visão de mundo, a forma como o escritor consegue recombinar as suas referências e projetá-las sobre o tema. Mesmo quando se propõe a ser objetivo, quem escreve ainda está expressando a sua concepção própria de objetividade. Portanto, ser subjetivo é fundamental para o ato criativo, porque implica em comprometer-se. Comprometer-se é acreditar. Quando você não consegue convencer a si mesmo, não consegue convencer o público. E quando não consegue convencer o público, você o perde.

Do que você já viu do material pronto, alguma coisa superou as suas expectativas? 

Roger: Não existe Renata, existe Kassandra.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Teaser Trailer de Kassandra!


Filmes quando entram na fase de finalização viram um mistério. O que há de público num set desaparece na ilha de edição. Somem as dúzias de pessoas iluminadas por refletores, com fotos sendo tiradas em profusão, sons altos e dinâmica intensa; o trabalho passa a ser feito por poucos e misteriosos seres enfiados em salas escuras, metodicamente repensando e refazendo cada corte, cada som, cada nota da música. 


Mas, depois de algum tempo de silêncio, o filme começa a emergir. E este é o primeiro vislumbre de Kassandra: um teaser trailer que precede o trailer oficial, que deverá ir ao ar no início do ano que vem. O teaser é só uma prévia: serve para dar mais água na boca e para indicar o clima geral do projeto.

Aproveitem!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Mais Kassandra na imprensa

Kassandra é um dos projetos citados em matéria da edição 8 do Editorial J (impresso publicado na Famecos) que tratava de casos bem-sucedidos de crowdfunding -- além do curta, são enfocados também o novo CD da banda Apanhador Só e a reforma do Centro Cultural Tony Petzhold, em Porto Alegre.


A reportagem de Constance Laux contém uma entrevista com o diretor do filme, Ulisses da Motta Costa, e pode ser visualizada neste link aqui. É só clicar nas abas da versão virtual da publicação. Boa leitura!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Relatos de Kassandra - IV - última diária


As impressões da intérprete de Kassandra, Renata Stein, durante as filmagens do curta. Os outros relatos podem ser lidos aqui, aqui e aqui.


Sangue, mais sangue, muito sangue e sangue. Se eu escrevesse só isso para relatar a quarta diária acredito que seria suficiente. Foi um dos dias mais grudentos que já vivi – nem o verão de janeiro me deixa assim. O sangue feito pela produção era algo como açúcar em meleca que grudava no cabelo, na roupa, no corpo (acima)... Ah, fabuloso. 

A quarta diária foi praticamente dedicada às cenas do pesadelo que infelizmente foi mudada. Ou felizmente, se eu fosse pensar na maior quantidade de sangue que seria usada para a antiga cena. Gravamos algumas partes de outras cenas para melhorar o que já tinha sido feito e dar um ritmo melhor, e nos dedicamos às cenas do pesadelo. Dessa vez o set estava bem mais vazio, já que apenas seriam as cenas de Kassandra. Apesar de algumas pessoas da produção terem quebrado alguns galhos como figurantes, não é, Chico e Marina*? Ainda bem que tinha a boneca Blá-Blá para fazer companhia para Kassandra, já que ela estava sem terapeuta, sem vizinho e sem Homem Grande. 

Falando em Kassandra especificamente, como eu estava aflita por não saber se seria capaz de saber ser Kassandra de novo, tanto tempo após as primeiras diárias! Acho que foi nesse dia mesmo que vi a primeira montagem das cenas já feitas do curta metragem. Confesso que eu achei que poderia estar muito melhor. A preocupação de voltar atuando como Kassandra que já existia ficou pior. Mas, apesar de repetir muitas vezes as cenas, pois o “ator sangue” nem sempre acertava sua marca, acredito que saiu tudo muito bem. 

Estava um dia bonito, foi um dia divertido, um ótimo almoço com maravilhosas sobremesas, poder rever o pessoal . . .  Para quê falar das gravações, não é mesmo, Renata? A comida estava boa e é o que importa. HAHAHAHA. Brincadeiras a parte, mas realmente o dia estava muito bom. Acredito que conseguimos fazer das novas ideias para o pesadelo um bom trabalho. Muito sangue, olhares macabros, participações especiais do Chico, da Marina como figurantes, da adaga, da Blá-blá. 

Peço desculpas se não relatei mais detalhes da diária. Esse dia esqueci de escrever no meu caderninho de nota e minha memória não esta ajudando com tudo. E hoje, dia 24 de agosto, que é quando eu escrevo, quase 8 meses depois das primeiras gravações de Kassandra, percebo o quanto foi bom e sinto saudades dos dias trancada dentro de um apartamento gravando o curta. E o quanto estou desejando que a finalização do curta seja feita logo para eu poder assistir.
 
Abraço. 
 
 
* Chico Pereira e Marina Cardozo, respectivamente o compositor da trilha e a segunda assistente de direção.

domingo, 29 de julho de 2012

Um carioca em Kassandra


Victor Hugo Fiuza viveu uma experiência curiosa em Kassandra. Estudante de cinema na PUC-RJ e carioca da gema, foi convidado pelo diretor Ulisses da Motta Costa para vir ao Rio Grande do Sul ser assistente de direção. Ambos se conheceram no Festival de Gramado em 2009, quando fizeram parte do Júri Popular.

Além de ter trabalhado como primeiro assistente de direção durante as filmagens, Victor também assumiu a direção de fotografia adicional na terceira diária, devido a compromissos profissionais de Pablo Chasseraux -- o que só aumentou a resposabilidade e a importância dele dentro da equipe.

A seguir, as impressões do próprio Victor nos dias em que passou filmando em terras gaúchas. 


A Experiência de fazer Kassandra


Quando meu avião decolou de Porto Alegre, sentido Rio de Janeiro, a minha sensação era de deixar um território especialmente familiar para mim. Da janela, eu não via só uma paisagem que se afastava, perdendo sua definição; via elementos tão aleatórios quanto o chimarrão, uma cerveja Polar e a expressão “Bah”, agora tão próximos de mim, se afastando. Via lugares e principalmente, pessoas. Esse é um dos estranhos poderes do cinema: te permitir entrar em um lugar sem nenhuma fronteira do tempo (e sua duração), com uma intensidade muitas vezes fora de controle. O cinema é uma fábrica de laços. 

Sou do tipo de pessoa que acredita que uma câmera cinematográfica capta muito mais que aquilo que é encenado diante dela. Ela é capaz de captar seu entorno; a atmosfera que a envolve. Não creio que apenas os atores construam cada plano do filme; acho que dentro de cada imagem, estão as aspirações e sentimentos de toda uma equipe de pessoas. Nesse sentido, estou quase convicto em dizer que Kassandra será um filme invariavelmente especial, posto que o que se conseguiu construir em termos de relações humanas em direção e em torno do filme, foi de uma beleza realmente artística. 

Tudo isso não se trata apenas de uma competência técnica dos membros da equipe e do brilhante elenco, mas principalmente da capacidade de doação e de relacionamento interpessoal que envolveu o filme. Se ao descobrir que teríamos um número acima da média de planos por dia (geralmente são 15; fizemos mais que o dobro disso diariamente) e que teria bons motivos pra me preocupar (já que isso tornaria a filmagem muito mais difícil e complexa, além de arriscada, e meu trabalho envolve diretamente a gerência dessas questões no set), foi somente essa condição de equipe e elenco que permitiu a concretização de Kassandra de uma maneira profundamente eficaz. Isso não é tão comum, seja em curtas, longas ou na TV. 



Mérito do poder invejável de decisão e controle do diretor Ulisses da Motta Costa, que sempre soube como conduzir não só aquilo que deveria se apresentar diante da câmera (ou seja, a encenação do filme), mas também o grupo que estava por detrás dela; a agilidade nunca comprometedora da fotografia de Pablo Chasserraux e sua equipe, sempre acalcando resultados surpreendentes; Ramona Barcellos e Roberto Coutinho (produção), por simplesmente terem cuidado de tudo e de todos nós; Ana Gusson, a diretora de arte, que torna impossível um set não ser agradável – além de estar, mesmo com todos os cenários prontos, sempre por perto; à Marina Cardozo, muito mais que uma continuísta; ao elenco, nunca menos que preparado e excepcional (Kassandra conta realmente com grandes atores – e eu gostaria de fazer uma menção especial à Renata Stein, a Kassandra do título, uma atriz jovem assustadoramente madura e talentosa); em suma, graças a todos. 

Acho que as pessoas podem esperar de Kassandra um filme que, além de cumprir seus méritos cinematográficos por si só, também fale sobre um tipo de cinema importante de ser feito e que deve ser valorizado, inclusive remetendo, regionalismos à parte, ao próprio cinema gaúcho (seja o de outrora, o do agora ou o do porvir). 

Da minha parte, fica uma certa saudade e uma vontade de novas produções no Rio Grande do Sul. Principalmente se for para trabalhar com pessoas como essas que fizeram e fazem Kassandra

Obrigado. 

Victor Hugo Fiuza (primeiro assistente de direção)

PS: Gostaria de agradecer especialmente ao eletricista Jô, pela ajuda especial que ele deu a mim no nosso terceiro dia de filmagens.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Mais Kassandra na TV


No dia 16 de julho, Kassandra foi mais uma vez destque na TV Unisinos. Neste dia, foi ao ar uma matéria sobre crowdfunding e, entre os entrevistados, estão a produtora Ramona Barcellos (foto acima) e o diretor Ulisses da Motta Costa. As imagens foram feitas no estúdio da Ampli Produtora, empresa que realiza o curta.

Confira no vídeo abaixo, entre 0:40 e 6:02 (a reportagem é de Priscila Gomes):

Detalhe: é possível ver na matéria alguns trechos (mesmo que sem muita qualidade) da primeira versão da montagem feita por Alfredo Barros, onde se pode vislumbrar um pouco das atuações de Renata Stein, Leandro Lefa e Suzana Witt. Vejam até o final da reportagem! ;-)


segunda-feira, 9 de julho de 2012

As imagens de Kassandra - 4

Viu a nova leva de fotos dos bastidores do curta? Então aqui vai mais algumas!

Fotos por Daniel Coutinho. Veja ainda mais fotos aqui, aqui e aqui.

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Leandro Lefa e o diretor Ulisses passando uma cena
Uma cortina falsa para um plano subjetivo
Renata Stein e a boneca Blá-Blá
Imagem fantasmagórica no monitor
Leandro Lefa "entrando" no personagem



terça-feira, 3 de julho de 2012

A outra estrela de Kassandra


 You can also read the Kasssandra's English Version!

Durante as filmagens de Kassandra, uma estrela em ascenção surgiu. Teria uma aparição pequena e pontual, quase desapercebida. Mas encantou a equipe. De que forma? Com seu aspecto soturno e ameaçador, que lhe garantiu cada vez mais destaque.

Estamos falando de Blá-Blá, a boneca. A história já previa desde o argumento: "o quarto antigo de Kassandra -- lá se acumulam vários brinquedos com aspecto assustador"; e manteve-se assim no roteiro.

Quem conseguiu a boneca foi a diretora de arte Ana Gusson. Na primeira reunião da equipe de arte, ela mencionou que a sua mãe teria preservado uma boneca da sua infância -- considerada assustadora por quase todo mundo. No set, Blá-Blá rapidamente virou atração, graças à sua capacidade de pôr a língua para fora quando apertada. O diretor de fotografia Pablo Chasseraux apelidou-a de "bichinho do inferno".

No fim das contas, a boneca foi usada em duas cenas-chave do curta, em destaque. E virou a terceira menina do elenco junto com Renata Stein e Suzana Witt. Pensando bem, Kassandra não poderia ter um brinquedo melhor

segunda-feira, 25 de junho de 2012

As imagens de Kassandra - 3

Enquanto as novidades não chegam, revelamos mais algumas fotos para vocês. Esperamos que gostem!

Fotos por Daniel Coutinho. Você pode ver a primeira parte aqui e a segunda parte aqui.

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Renata Stein e a câmera, uma relação de amor
Leandro Lefa, o vizinho asqueroso
Pablo Chasseraux (diretor de fotografia) e Ulisses Costa (diretor)
O "filme dentro do filme"
"Corta. Mais sangue"
 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Kassandra - Nossos Agradecimentos

É mais do que na hora de agradecer às pessoas responsáveis pelo sucesso da nossa campanha de arrecadação coletiva: vocês que ajudaram.  

Nada menos que 135 pessoas contribuíram com Kassandra, através do site Catarse.me ou diretamente com a gente. O número de apoiadores que acreditaram no nosso trabalho é mais importante do que o valor arrecadado: mostra que tem gente que acredita no projeto e em nós.

Como disse o diretor Ulisses da Motta Costa"Eu não era o único a espiar a cada meia hora a página do Catarse, preocupado que pudesse não dar certo... Somos homens de pouca fé. Nossos amigos, contudo, não são. Eles acreditaram na gente. Agora, o único objetivo da minha vida é não decepcioná-los. Vamos terminar essa bagaça!"

Primeiro, um agradecimento super especial para os apoiadores que nos doaram o valor máximo e se tornaram Produtores Associados de Kassandra, com direito a nome nos créditos principais!

Camila Barcelos
Fábio Guizzardi
Luciane da Motta Costa
Márcia Bohn Gusson

A todos que acreditaram em nós e doaram, além de terem divulgado, o nosso filme - sim, "nosso":  de todas essas pessoas também! Somos eternamente gratos a cada uma delas. :)

Chico Pereira - Compositor

Adriana Ferraz
Adriana Renata Barcelos
Alexandre Selliach
Aline Geib
Amelize Mattos
Ana Carolina Kanitz
Ana Paula Lopes
Angela Lawisch Dorfey
André Conti Silva
Andrea Vanessa Jungbluth
Andy Renmei
Bárbara Swarowsky
Bruna Klassmann
Bruna Köche
Bruno Steffen
Camila Kunkel
Caren Suzana
Carmen Pereira
Carolina Wingert
Caroline Conter
Carlos Porto
Cássio Vargas 
Catarina Corbellini Gusson
Chaiane Bitelo
Cibele Berghahn
Claudino José Etges
Clovis Oyarzabal
Cristina Salib

Ramona Barcellos - Produtora
 Daniel Machado Pereira
Daniela Danieli
Deb Xavier
Denise Thomas
Douglas Michaelsen
Eduardo Conter
Eduardo Ferreira
Eduarda Schuastcer
Fabrizio Ridel
Farlei Heinen
Felipe Fito
Fernando De Cesero
Fernando Nabinger
Flávia Falcão
Gabriel Ferreira
Gabriel Klaser
Gerusa Wasun
Gibran Sirena
Gloria Pinto
Guilherme Benvegnu
Guilherme Cunha
Guilherme Portella
Gustavo Moreira
Henrique Abel
Henrique Scherer
Hilton Junior


Suzana Witt - Atriz
Iara Ungarelli  
Irení Pulla
Jamile Hallan
Janaína Ferreira
Jean Schmith e Tiago Silveira
Jéssica Pulla 
João Felício Gusson
João Ricardo Bittencourt
Jorge Feldens
Juliana Bock
Juliana Wingert
Kat Draugelis
Kátia Salib
Léia Stein 
Liege Ávila
Lili Amaral
Liziane e Vinícius Barros
Loraci Maria Wathier Kich
Luana Flôres
Lucas Bertolini Pizzo
Lucas Finkler
Lucas Luz
Lucia e Décio Berghahn
Luciano Bargmann
Luciano Lamb
Luciano Marquetto
Luciano Martins
Lucinara Linck

Roberto Coutinho - Produtor e Engenheiro de Som
Maria Cristina Franck
Maria Toaldo Machado
Mary Sandra Carlotto
Méle Dornelas
Miguel Presser da Silva
Mônica Marques
 Neori José Gusson
Nicole Kleemann
Nilva Terezinha Gusson Etges
Oliver Reinis
Ory Laux
Priscila Mendes
Rafael Ribs
Raquel Peruzzo e Robson Barcarolo
Rica Retamal
Rogério Rodrigues
Rogério Theisen
Ronaldo Schirmer 

Ana Gusson - Diretora de Arte
Sheila e Gus Antonello
Thais Fernandes
Thaís Lima e Rafael Klaser
Thiago Maciel e Jordão Maciel
Uri Blankfeld
Valmor Burdzinski
Valquíria Ritter
Vandré Brancão
Vânia Medianeira Flores Costa
Veronica Born
Verônica Ribeiro
Verônica Stein
Xaiane Pires
Xixa Kayser

E os Alunos da Oficina Cine, Áudio e Vídeo do Colégio Sinodal:
Alex Souza
Amanda Garcias
Ana Copetti
Henrique Souza
Higor Rodrigues
João Pedro Boufleur
Júlio Schröder
Paulo Mezzomo
Victória Freire

Renata Stein - Atriz


Para finalizar, estas palavras do assistente de direção Victor Fiúza resumem a importância do apoio de todos vocês:

"Quando Kassandra atinge a meta do Catarse, não se trata de uma conquista meramente financeira, no sentido de um êxito numa alternativa da produção cinematográfica. Significa uma valorização compartilhada do cinema - valorização essa necessária, e finalmente interdisciplinar: não é só o próprio meio do cinema que se auto-apoia, mas é todo um meio cultural e social. No fundo, não é só a equipe de Kassandra que ganha a possibilidade de finalizar um trabalho (trabalho vital, diga-se de passagem), mas tanto quanto ela, ganham também todos aqueles que apoiaram ou até mesmo não, pois há um esforço coletivo para a existência de um cinema pertinente. Ponto para nós.

Fazendo ou não parte do cinema, todos estão dentro".

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