Paciente: Sexo feminino. Vinte anos.
Estresse pós-traumático. Alucinações visuais.
Avistamentos de um vulto, o "homem grande".
Cartas de tarô, de origem desconhecida.
Muda.
Mora só.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Entrevista: Maico Silveira, o terapeuta

Maico Silveira, em Kassandra, faz o terapeuta que visita a personagem-título. É, a bem dizer, o único personagem a falar de fato no filme.

Ator especializado nos palcos, mas com vários trabalhos em audiovisual, Maico (assim como Leandro Lefa) trabalhou com boa parte da equipe em O Gritador e também em Luz Natural, projeto de curta experimental iniciado pelo diretor Ulisses da Motta Costa enquanto Kassandra está sendo finalizado. 


Você é basicamente o único integrante do elenco a ter falas. Como é a responsabilidade de ser a voz num filme que é, a bem dizer, mudo?

Maico: A responsabilidade é grande. Se o filme foi concebido com poucas falas, postas na boca de um único personagem, significa que estas palavras são importantes e foram pensadas com exatidão para cada momento onde aparecem. Por isso conversei muito com o diretor sobre as intenções dessas falas, para encontrarmos a justa medida desse jogo de revelar/esconder que a palavra dita nos proporciona.

Como você avalia o processo de preparação do elenco antes da filmagem? Para um padrão de um curta-metragem, você acha que foi o suficiente ou não se costuma fazer isso neste tipo de trabalho?

Maico: Foi um período de preparação que, apesar de curto, foi muito esclarecedor para o processo. Eu adoro trabalhar com preparação anterior, acho que este período agiliza o momento da gravação, dando um entendimento maior ao ator, que pode trabalhar com mais clareza de intenções na hora do “ação”. Ter um tempo de preparação é ótimo, sendo um curta ou um longa-metragem, pois isso dá armas para o ator usar na hora da gravação.

Como um ator que costuma trabalhar mais no palco, o que você leva ou quer fazer de diferente quando vai para o set? O que você tentou fazer de diferente ou novo em Kassandra?

Maico: Eu tentei não fazer nada em Kassandra. Isso é uma das coisas difíceis de ser um ator habituado ao palco. Tenho tentado, no meu trabalho com o cinema, entender que não é preciso querer atuar, ou mostrar o que está por trás da atuação. O mais difícil é deixar a câmera entrar no nosso íntimo e captar o que é necessário para o personagem.

Você conhecia Leandro Lefa e Luis Franke anteriormente, e é o seu segundo trabalho com o diretor Ulisses. Já Renata Stein você conheceu durante os ensaios. Como você avalia estas parcerias antigas e contracenar com uma atriz nova no contexto do filme?

Maico: Estamos evoluindo juntos, e é muito bom quando temos a possibilidade de acompanhar o trabalho dos colegas e percebemos essa evolução, sobretudo quando somos atores com formação e história em comum nos palcos. Tanto no entendimento da atuação (no caso do Lefa ou do Luis), quanto no que diz respeito à maneira como conduzir um trabalho (no caso do Ulisses), percebe-se que muitas coisas foram entendidas e assimiladas ao longo dos últimos anos. Conhecer a Renata, por sua vez, foi um presente: ela me ensinou muito durante o processo. Ela tem uma energia espontânea e descontraída, necessárias não apenas para a Kassandra, mas para qualquer ator que queira trabalhar com cinema. Por isso vê-la trabalhando, colocando toda sua energia alegre, jovial e descontraída no trabalho, foi uma ótima maneira de refletir sobre nosso trabalho e alimentar o próprio processo.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Entrevista: Leandro Lefa, o vizinho

Leandro Lefa, antes de fazer Kassandra, já tinha uma larga experiência em TV e em cinema, tendo atuado em inúmeros curtas e também em longas -- fora, claro, no teatro. Ele já havia trabalhado com boa parte da equipe em O Gritador (2006), também dirigido por Ulisses da Motta Costa (assista aqui). 

Além de atuar, Lefa também está trabalhando no som de Kassandra, como folley artist. Confira a entrevista com o ator:

Alfredo Barros, o montador de Kassandra, considera você um dos melhores atores gaúchos para cinema. Você realmente tem este gosto especial de atuar para a câmera, mesmo que a formação de atores no Rio Grande do Sul seja orientada para o teatro?

Lefa: O Alfredo é muito lisonjeiro, mas acontece que meu trabalho depende muito do dele, assim que dividimos qualquer mérito. Sim, me relaciono muito melhor com a câmera e me identifico mais com a linguagem do cinema. Tenho muita dificuldade no teatro. E é uma coisa minha, porque de fato não tive uma formação voltada pra cinema (até porque não há, aqui). Começo a acreditar nas pessoas que dizem que eu sou do contra (risos).
Você já fez outros trabalhos de terror, como em Porto dos Mortos, e no teatro está vivendo o protagonista do Linguiceiro da Rua do Arvoredo, uma lenda urbana de Porto Alegre. Em Kassandra, seu personagem também vive num contexto sombrio. O que há nestes personagens repulsivos que te atrai a atenção?

Lefa: A bem da verdade, nesses três trabalhos fui convidado por pessoas de quem gosto. Poderiam ter me convidado pra fazer um vendedor de casquinha que eu teria topado. Mas o interesse pelos personagens vem na medida em que eles ajudam a compor a história e o universo do filme. No caso de Kassandra, por exemplo, o personagem é um tanto raso, mas é por isso que funciona dentro do filme. Ele contrasta com Kassandra, dando dimensão pro universo dela e mais complexidade à trama.
Do elementos que existem em Kassandra, qual é o que mais te chama a atenção como artista?

Lefa: Justamente, a trama e o universo dos personagens são alguns dos elementos que mais me fascinam no cinema. E em Kassandra eles estão muito presentes, pelo roteiro e pelas atuações. E isso é evidenciado pela fotografia. Enfim, é um conjunto harmônico. No teatro, um ator pode 'salvar a peça'. No cinema, ele pode se destacar. Se o filme funciona é mérito da equipe (onde se inclui o elenco), com destaque pro diretor, que faz todo mundo trabalhar no mesmo filme.
Como é refazer a parceria com a equipe com a qual você fez O Gritador? O que há de novo entre aquele trabalho e Kassandra?

Lefa: É muito bom por serem pessoas formidáveis, mas isso eu já sabia. É ótimo ver como todos cresceram. Os seis anos trouxeram experiência e agregaram outros bons profissionais. Me pergunta se eu quero fazer parte do próximo filme (risos).

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Entrevista: Luis Franke, o Homem Grande

Luis Franke ou, simplesmente, Luisão. A sua presença cênica forte e voz marcante (e seu grande talento) lhe renderam trabalhos nos palcos, nos microfones (ele locutor também), nas telas de TV, em produções publicitárias e no cinema -- está em O Tempo e o Vento, de Jayme Monjardim, que estreia em agosto de 2013. Além disso, Franke já tem dois prêmios Açorianos de Teatro em casa. Em Kassandra, ele faz a enigmática e assustadora figura chamada apenas de "Homem Grande". 

Confiram o que este homem de grande talento têm a dizer:



Luis, você é um ator que tem emendado trabalho atrás de trabalho para televisão, publicidade, teatro e cinema. Por que fazer um curta-metragem independente e como arranjar tempo para fazê-lo?

Luis: Os curtas, além da experiência, me dão muito prazer. A relação ator, diretor, assistentes, câmera, som, iluminação, cenografia é pura magia quando acontece em harmonia, e pra isso a gente sempre arruma tempo.

Você já recebeu dois prêmios Açorianos de Teatro. O próprio Ulisses lhe disse que era louco de dar a um ator premiado um papel que não tem falas. Não lhe incomoda em Kassandra você não puder usar a sua voz, que é uma das suas marcas registradas, e ter que atuar apenas com o corpo e com o rosto?

Luis: Na verdade eu é que sou grato ao Ulisses por ter me dado a oportunidade de fugir um pouco da minha “zona de conforto”. Os desafios nos fazem crescer.

O quem lhe chamou mais a atenção no projeto de Kassandra? Em suma, onde que o curta conquistou o seu interesse e despertou sua vontade de participar dele?

Luis: Desde o início das minhas tratativas com o Ulisses, me chamou a atenção a sua paixão, a sua vontade de realizar o projeto. Quando nos encontramos pessoalmente, vi isso no brilho do olho dele. Ele sabia o que queria. Talvez não soubesse ainda por onde ir, e abriu esse espaço para os atores construírem juntos este caminho, mas sabia onde queria chegar, e isso já era meio caminho andado. 

Eu já havia recebido um prêmio de atuação por outro trabalho orientado pelo Ulisses há alguns anos*, então sabia que estava em boas mãos. No elenco, o privilégio de dividir a cena com os talentosíssimos e queridos amigos Maico Silveira e Leandro Lefa, e a impactante Renata, que ainda não conhecia. E finalmente pelo roteiro instigante e misterioso, que nos conduz pelo imaginário entre a realidade e a ilusão, a sanidade e a loucura, a verdade e a mentira, a confiança e a traição...e por aí vai.

* Pelo curta De Cartas de Café, realizado em 2008 por alunos da Oficina de Cine do Colégio Sinodal de São Leopoldo. Em 2010, o filme concorreu no Festival de Vídeo Estudantil de Guaíba e levou os prêmios de 2o lugar em Curta de Ficção e de Ator Coadjuvante para Luis Franke. Esta oficina é ministrada por Ulisses desde 2006 e alguns dos membros do elenco e da equipe de Kassandra cursavam-na naquela ocasião: a atriz Suzana Witt, a assistente de direção Marina Cardozo, e as figurinistas Giulia De Cesero e Isabela Boessio -- que, por sinal, foi quem dirigiu Franke no curta.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Entrevista: Roger Monteiro, roteirista

A partir de hoje, o blog de Kassandra publica entrevistas com elenco e equipe do filme, semanalmente. Trechos destas entrevistas vão constar no material de divulgação, mas aqui elas podem ser lidas na íntegra.

O primeiro a falar é o roteirista Roger Monteiro, que trabalhou em cima do argumento de Ulisses da Motta Costa para criar o texto do curta. Foram três tratamentos do roteiro, que tinha um total de 12 páginas. 

Confira o que tem a dizer o homem das palavras num filme praticamente mudo (e leia aqui as primeiras impressões do próprio Roger sobre o projeto de Kassandra).



O que levou um designer a escrever um roteiro? Como chegaram em você?

Roger: Design, fotografia, literatura, cinema… No fim do dia são apenas ferramentas diferentes para se contar histórias. A faísca que você precisa despertar é a mesma. A conexão que você precisa estabelecer, não muda. E isso se sobrepõe à técnica. Gosto de pensar que esse projeto veio parar nas minhas mãos por uma certa curiosidade mórbida do diretor. Creio que só isso já seja um mérito dos idealizadores de Kassandra: assumir o risco. Não se destila relevância das velhas fórmulas à prova de erros.

Você comentou que recebeu o convite para adaptar o argumento com ceticismo, por achar que inicialmente a proposta da obra estava muito distante do seu universo de interesses. O que no fim das contas Kassandra tinha que a fez se aproximar deste universo?

Roger: Nunca tive qualquer interesse pelo gênero que o senso comum chama terror. Cemitérios indígenas, zumbis e rainhas do grito não fizeram parte do meu imaginário adolescente e não seria supresa se eu confundisse, na rua, Jason com Kruger. Dificilmente eu poderia me ver contribuindo para uma narrativa ambientada nesse universo. Mas aconteceu de o Ulisses da Motta Costa ser um tremendo mentiroso. Por mais que ele queira, Kassandra não trata do terror, ou do horror. A garota na camisola etérea é uma heroína romântica, na acepção mais acadêmica da palavra. Por trás do elemento fantástico não está o grito, mas a solidão. A solidão profunda de uma criança que não se apartou apenas do mundo, mas de si mesma. E com isso eu podia me conectar.

Qual era a sua maior preocupação na hora de elaborar as cenas e os diálogos? Como foi transpôr as ideias do argumento para o formato de roteiro?

Roger: Pode-se imaginar que, em uma estrutura narrativa desse tipo, a maior dificuldade seja a ausência do verbo. É claro que isso é um obstáculo a ser transposto, mas, por outro lado, acaba se tornando uma pedra fundamental para uma estética própria. O silêncio, em Kassandra, não é uma circunstância, ele é uma personagem tão importante quanto qualquer outra. Dar a ele esse caráter e transformá-lo no porta-voz da angústia que desejávamos foi o foco. Se fosse possível tornar o silêncio sufocante, a história se desenvolveria por si só; se não fosse, tudo mais fracassaria.

Você elaborou um roteiro mais literário, com um certo grau de subjetividade na escrita. Isso foi proposital para passar alguma informação mais sutil, ou é uma questão de estilo?

Roger: Uma vez que trata de escolhas, toda escrita é subjetiva, expressa um ponto de vista, uma visão de mundo, a forma como o escritor consegue recombinar as suas referências e projetá-las sobre o tema. Mesmo quando se propõe a ser objetivo, quem escreve ainda está expressando a sua concepção própria de objetividade. Portanto, ser subjetivo é fundamental para o ato criativo, porque implica em comprometer-se. Comprometer-se é acreditar. Quando você não consegue convencer a si mesmo, não consegue convencer o público. E quando não consegue convencer o público, você o perde.

Do que você já viu do material pronto, alguma coisa superou as suas expectativas? 

Roger: Não existe Renata, existe Kassandra.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Teaser Trailer de Kassandra!


Filmes quando entram na fase de finalização viram um mistério. O que há de público num set desaparece na ilha de edição. Somem as dúzias de pessoas iluminadas por refletores, com fotos sendo tiradas em profusão, sons altos e dinâmica intensa; o trabalho passa a ser feito por poucos e misteriosos seres enfiados em salas escuras, metodicamente repensando e refazendo cada corte, cada som, cada nota da música. 


Mas, depois de algum tempo de silêncio, o filme começa a emergir. E este é o primeiro vislumbre de Kassandra: um teaser trailer que precede o trailer oficial, que deverá ir ao ar no início do ano que vem. O teaser é só uma prévia: serve para dar mais água na boca e para indicar o clima geral do projeto.

Aproveitem!